terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Uma crônica pelo “bicho humano”.

Saindo do trabalho hoje, passei na Moderna para tomar um café e fiquei olhando as notícias na Ana Maria Braga. O que vi me fez perder completamente a fome. No período de 3 minutos, assisti a duas notícias de espancamento e morte de pessoas em diferentes lugares e a uma de maus tratos a uma cachorrinha que foi queimada por algum produto químico. Pois é, além das notícias trágicas, o que mais me fez pensar foi o fato de que as duas primeiras, que se tratavam dos humanos mortos e espancados, tiveram 30 segundos de duração cada, enquanto que a da cachorrinha teve duração de 2 minutos, com direito a discurso da Ana Maria após a matéria. A escolha da prioridade de tempo se deve a quê? Inversão completa de valores ou simplesmente sensacionalismo em busca de audiência? Independe. O que acontece é que de nada adianta idolatrar os animais e descrever ou aceitar o ser humano como espécie predatória e malévola. De que adianta "ajudar" espécies mais fracas e repudiar a sua própria? Que mudança é possível obter desse fato? Salvar um cachorrinho, um gatinho ou qualquer animal é um ato lindo (porém não creio que seja digno de louvor, pois vejo como um ato de humanidade), mas não te faz melhor ou pior do o teu próximo que, mesmo maltratando animais, é tão humano quanto você, que não pensa duas vezes antes de esmagar um mosquito com um bater de palmas. Todo o ser humano é levado naturalmente ao erro. Somos a única espécie agraciada com racionalidade e inteligência. No momento em que nos comportamos como a nossa, dita, origem, os outros, que cometem os mesmos erros em proporções diferentes, se levantam para julgar e apontar o dedo. Não defendo aqui os maus tratos com os animais, jamais seria capaz disso, mas defendo aqui a inconstitucionalidade do julgamento humano: “Ah! Mas eu nunca bati em nenhum cachorro ou animal qualquer”. Tem certeza? Nunca matou uma rã ou uma lagartixa simplesmente porque elas entraram no mesmo ambiente que você? Se sim, você não é nada melhor do que aquele cara que atirou o produto químico na cachorrinha. Assista a seus erros de camarote e veja como é possível corrigi-los completamente. Os mosquitos agradecem se você usar um repelente em vez de um inseticida. A vida humana é frágil, perigosa e simples. Frágil porque somos movidos por sentimentos e emoções, o que a deixa, também, perigosa; simples porque suas respostas estão nos seus problemas. Mudar uma vida é muito melhor que condená-la. “Essas pessoas que maltratam os bichos tem que ir para a cadeia”! Não seria melhor colocá-las para trabalhar nas instituições de proteção aos animais como penitência, nas quais poderão aprender a respeitar as outras formas de vida e ter a oportunidade de serem tocadas pelo afeto do animal que feriram? Essa seria a provável melhor solução, mas, primeiro, seria necessário ensinar aos trabalhadores destas entidades a amar o seu igual, indiferentemente do erro que ele tenha cometido. Seria possível amar parcialmente? Amar o ser mais fraco, mas detestar o seu igual? É difícil de acreditar que isso seja possível. O humano que salva um cão é louvado, mas o ser humano que salva um ser humano salva outros inúmeros animais e humanos, gerando o verdadeiro “efeito dominó” da boa existência.

Alex Barcellos Pinto